CRÔNICA: Religiosidade: um ato de escolha?


“Os mais fortes também têm seus momentos de fragilidade. As pessoas mais cultas passam por momentos de incoerência. O ser humano mais gentil também perde a paciência. A pessoa mais rígida e auto-suficiente derrama suas lágrimas, ainda que escondidas.” Augusto Cury

Correm aos quatro cantos, há muito tempo, que religião e futebol não são assuntos a serem discutidos, pois acabaria empatando no zero a zero, tendo em vista que todos abusam de sua individualidade quanto a suas escolhas, e estas ficam a beira de um fio a intolerância do ato de aceitar. Cada um tem a sua ideologia e acredita nela. Todos são fiéis aos seus pensamentos e as suas convicções, e qualquer discordância em torno disto torna-se o estopim de divergências.

Sabe-se que Deus é bondoso e misericordioso com todos os seres, então, porque as pessoas sofrem? Não existe uma resposta fundamentada para esta indagação, no entanto, quem sabe algum dia, chegaremos a conclusão de que a dor pode ser algo bom, pois pode gerar o crescimento do ser humano no sentido de proporcioná-lo um momento de reflexão sobre sua existência e sua relação com o mundo que o cerca.

Quantas vezes dizemos: “não farei ao meu próximo aquilo que não desejo que ele me faça”, na certeza de que com isso melhoraremos nossas vidas, e conseguiremos melhorar um pouco o mundo já tão maltratado.

Quando olhamos a maldade nos outros é porque (re)conhecemos essa maldade através do nosso comportamento, da nossa índole. Nunca perdoamos verdadeiramente aqueles que nos ferem, por que achamos que jamais seríamos perdoados. Refugiamo-nos no orgulho, para que ninguém possa ver nossa fragilidade.

Propor uma reflexão, é um direito adquirido de qualquer pessoa. Ainda bem!

Fico na maioria das vezes abismado, com as atitudes negativas de alguns fiéis perseguidores angelicais, ao induzir a toda uma população à prática de discriminação, à luta contra o ser humano, à indução ao inferno e o pior de tudo, ao pecado da IRA, colocando as pessoas umas contra as outras. Fico verdadeiramente preocupado com a insanidade religiosa do “deus” todo “maquiavélico” que algumas pessoas implantam na realidade vital de seres humanos, desprovidos de qualquer criticidade mental.

Existe um ditado popular relevante que diz: “mente vazia é oficina do demônio”, talvez aí esteja à explicação para tanta baboseira vinda de algumas religiões e de seus representantes desde há muito tempo. Eis que surge veemente em minha massa encefálica uma indagação sobre: até aonde vai a fé e a religiosidade dessas magnificências? Que tipo de “deus” é este, que eles crêem e por que temos que confiar nas palavras de seres que nem sabem, quem verdadeiramente são.

Minha preocupação gira em torno de algumas afirmativas da própria Bíblia Sagrada, quando diz: “Igualmente hão de surgir muitos falsos profetas, e enganarão a muitos...” Mateus 24:11 e ainda: “Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores.” Mateus 7:15; se é para interpretar como convém, faremos isso, amém?!

Inegavelmente vivemos um momento crucial para todos os povos, de todos os países. Fome, miséria, guerra, mortes, entre outros problemas sociais e humanos, enquanto isso o povo reverencia a um “ser” que vive em sua redoma de ouro, usando suas roupas de seda pura e suas jóias que dariam para alimentar milhões de pessoas. Não lhe parece estranho este tipo de solidariedade divina? Um indivíduo que julga ser o representante de Deus aqui na Terra viver cercado de ouro enquanto milhares de pessoas imploram por um pedaço de pão?

Se existem fiéis realmente comprometidos com o bem de toda nação humana, sinceramente ainda não tive o olhar holístico em observar onde está esse comprometimento, bem como o interesse deste aproximar.

De acordo com alguns teóricos, religião é um termo que nasceu com a língua latina: "religare" = "religar", o que poderia significar a tentativa humana de "religar-se": a suas origens, ao seu criador, a seu passado. Acabou sendo adotado para designar qualquer conjunto de crenças, normas e valores que compõem artigo de fé de determinado conjunto de indivíduos. Mais do que isso, religião é uma convenção social.

O meu Deus é muito maior do que qualquer dogma religioso. Existe uma intimidade entre Ele e Eu, e mais ninguém. Não preciso de intermediários para conversar com Ele, sem que seja o que Ele determinou; Jesus Cristo.

Creio que ao invés de preocuparmos com atitudes de pessoas que estão amando-se e respeitando-se, deveríamos preocupar-nos mais com as comadres fofoqueiras que vivem a tomar conta da vida alheia, provocando o pecado da inveja, ajudar aos necessitados verdadeiramente, com o apoio espiritual e com apoio social. Muitos poderão dizer: não podemos concertar o mundo, podemos somente pedir a Deus pela vida deles e que lhes abençoe; no entanto Deus precisa de fiéis que parem de olhar por cima do muro e ajam.

Não freqüentar um local, um templo, que se diz religioso, não significa que não cremos em Deus. Estar ou não num ambiente confraternizando nossa fé, pode ser uma forma opcional de não compartilhar de atitudes de um “deus” carrasco, vingativo, malvado, cheio de rancor e ódio que as ditas religiões pregam, muito menos crer que é através delas (as religiões) que chegaremos a Deus.

Não creio no Deus que não irá me salvar por algum ato que tenha realizado, afinal de contas, sou o filho Dele, que Ele tanto amou, pois morreu por mim numa cruz; que tanto ama, pois me deixa viver com saúde; e que tanto amará, apesar de todos os pecados que eu tenha praticado neste mundo.

“Quem nunca pecou que atire a primeira pedra”, se você atirou, já é um pecador. Não minta para si mesmo. Creio no Deus vivo que irá mudar as pessoas fazendo-as observar e analisar seus atos perante os outros seres aqui na terra, sem distinção. O meu Deus não colocaria bilhões de seres no mundo para sofrerem as discriminações que sofrem e depois ainda serem condenados ao tão temido inferno (se é que ele existe).

Dizem que a fé remove montanhas, e eu vos digo que também nos ajuda a sobreviver! Para isso precisamos além de ler, praticar as palavras da oração de São Francisco: Pedir ao Senhor, que fazei-nos instrumento de vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor; Onde houver ofensa, que eu leve o perdão; Onde houver discórdia, que eu leve a união; Onde houver dúvida, que eu leve a fé; Onde houver erro, que eu leve a verdade; Onde houver desespero, que eu leve a esperança; Onde houver tristeza, que eu leve a alegria; Onde houver trevas, que eu leve a luz. Fazei-nos que procuramos mais Consolar, que ser consolados; compreender, que ser compreendidos; amar, que sermos amados. Pois, é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado, e é morrendo que se vive para a vida eterna.

O meu Deus me dará a oportunidade de quando eu morrer, seja eu a criança, menor possível, irá me pegar no Teu colo, levar-me para dentro a Tua casa, deitar-me na Tua cama, irá despir o meu ser, cansado e humano, irá me contar histórias caso eu acorde para eu tornar a adormecer, e me acaraciar como Teu verdadeiro filho. O meu Deus é muito mais do que qualquer religião ou religioso, do que qualquer santo de barro, Ele é vivo dentro de mim, Ele conhece meus sentimentos mais impuros.

Por fim, indiscutivelmente viver neste mundo é algo ímpar e a única coisa que temos direito de pedir a Deus, é que olhai por nós todos, os pecadores! AMÉM!?

* Artigo publicado na Revista Estilo Off de Outubro/2008
Autor: Alexsandro Rosa Soares
Alex Soares
Especialista em Docência do Ensino Superior pelo Centro Universitário São José de Itaperuna, Especialista em Administração Escolar pela Universidade Cândido Mendes, Graduado em Letras pelo Centro Universitário São José de Itaperuna e Graduado em Magistério nas séries iniciais do 1º segmento do Ensino Fundamental pelo Instituto Superior de Educação de Itaperuna. Foi subsecretário do Centro Universitário São José de Itaperuna, atualmente é funcionário da Fundação e Apoio a Escola Técnica do Rio de Janeiro e Colunista do Jornal Macaé News.
Contatos: alexsandro.soares@gmail.com
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