RESENHA: Os meios de comunicação e a infância

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Resenhista: Francisco de Assis Pinto Bezerra ¹

OBRA RESENHADA: POSTMAN, Neil. O desaparecimento da infância. Rio de Janeiro: Graphia, 1999. Tradução: Suzana Menescal de Alencar Carvalho e José Laurenio de Melo.

PALAVRAS CHAVE: Infância. História. Comunicação de massa. Adultos. Desaparecimento. 

BIOGRAFIA DO AUTOR 

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Neil Postman [1931/2003] nasceu em New York e estudou na Universidade da Colômbia, onde fez carreira acadêmica chegando ao Doutorado em letras. Foi Diretor do departamento da cultura e de comunicação e Professor dessa renomada Universidade. Foi também colaborador de alguns jornais de grande circulação, como Tempos novos, Borne e Le Monde. Com formação básica em Sociologia, era um severo analista e crítico dos meios de comunicação, em particular à televisão, cuja visão era de que esse canal de informação tinha homogeneizado a política, impactando nos elementos do discurso, em prol da valorização da imagem visual do candidato. Entende que esse meio de comunicação, ao destruir os mecanismos de socialização, em particular a família e a educação, esteriliza a cultura e a sociedade.
Dentre suas grandes obras, destaca-se: Ensinando à atividade subversiva (1969); Língua em América (1974); Ensinando à atividade conservada (1982); A dissipação da infância (1984); Divertindo-se com a morte (1985); Como prestar atenção à mostra da noticia na televisão (1994); O fim da instrução (1996); A rendição da cultura à tecnologia (1994); O alvo da instrução (1999); Difusão Cultural (1994); O desaparecimento da infância (1999); O fim da Educação (2002); etc. Visto a grande notoriedade das suas obras, que são traduzidas e lidas em boa parte do mundo, em especial no Brasil, em 1986 obteve o prêmio George Orwell.
No Brasil, o livro Desaparecimento da Infância foi publicado em 1999 pela Graphia Editorial. Depois, a editora brasileira lançou, em 2002, outro livro de autoria de Postman sob o titulo de “O fim da educação: Redefinindo o valor da escola”, cujo autor examina os efeitos da devoção norte americana à tecnologia, ao utilitarismo e ao consumismo desenfreado na educação.

PERSPECTIVA TEÓRICA DA OBRA 

Para analisar o problema levantado de que a infância está desaparecendo, o autor se apóia na linha de pensamento de Alfred Marshall e de McLuhan, cujo viés teórico é de que: “Quando um artefato social torna-se obsoleto se transforma num objeto de nostalgia e de contemplação” (POSTMAN, 1999, p. 19). A posição assumida por esses dois clássicos autores se traduz numa critica aos críticos sociais e historiadores, que tomaram a infância como objeto de estudo apenas de maneira recente, embora o marco de partida desse fenomeno tenha sido a obra de Philippe Ariês, Centuries of chilhood, publicada nos Estados Unidos, em 1962.   
Postman não apenas era discípulo de Alfred Marshall e de McLuhan, como a sua obra foi fortemente influenciada pelo pensamento desses teóricos, na medida em que Postman também critica os historiadores de que a apropriação da infância, como objeto de estudo, apenas sustenta a sua tese de que a infância está em decadência. Portanto, pelo olhar teórico de Marshall, McLuhan e de Postman, a perda da infância, como a própria infância, é um fenômeno Histórico.

RESUMO DA OBRA

O conteúdo da obra de Postman está alocado em duas partes. Na primeira, sob o titulo de “A invenção da infância”, o autor discute o surgimento e o desenvolvimento da ideia de infância, com base nas condições e no desenvolvimento dos meios de comunicação que, no decorrer da história, tornou a infância desnecessária. Na segunda parte, intitulado de “O desaparecimento da infância”, Postman discute o seu objeto de estudo nos tempos modernos, cujo enredo mostra que a evolução dos meios de comunicação (prensa tipográfica, telégrafo, gráfica e as mídias eletrônicas) depreciou e transformou estrutura social, resultando na extinção da infância.
No contexto pormenor, o livro está estruturado num total de 9 (nove) capítulos, sendo quatro itens distribuídos na primeira parte e os restantes cinco capítulos constituem a segunda parte da obra. A isto se adiciona as partes pré textuais (prefácio e introdução) e a pós textuais (notas, referências e índice remissivo).
Como um nato pesquisador, Postman inicia a sua obra com uma indagação instigante: O que podemos fazer a respeito do desaparecimento da infância? Embora essa pertinente indagação esteja inclusa na introdução, Postman tira das suas responsabilidades a possibilidade de apresentar algum tipo de solução para essa questão. 
Postman desenvolve seu estudo a partir de dois pressupostos, que busca (in)validá-los com o resultado da sua investigação: A infância está desaparecendo e numa velocidade espantosa e, a outra, que os Norte americanos tem aversão a ideia de infância. Para corrobora esses pontos de vista, o autor descreve a história da criança desde o Mundo antigo, perpassando pela Idade Média e Moderna até o período Contemporâneo. Toma como objeto de estudo a linha divisória entre a infância e a idade adulta, que tende a se apagar ao longo dos tempos.  Nesse viés investigativo, Postman se preocupa com dois questionamentos básicos: De onde vem a infância? E porque estaria desaparecendo?

Primeira parte do livro

Postman inicia o Capitulo 1, intitulado de “Quando não havia criança”, afirmando que garotas de doze a treze anos são as modelos mais bem pagas dos Estados Unidos. São apresentadas ao público como se fossem mulhres adultas, espertas e, sexualmente, atraentes. São expostas num ambiente de erotismo, cujo simbolo valoriza a personifica a idade adulta.
Antes de enveredar pelo surgimento da idéia de infância a partir da invenção da prensa tipográfica no século XVI, Postman faz um retorno à civilização antiga, descrevendo como as crianças eram educadas e tinham acesso ao conhecimento.  Para tanto, recorre alguns clássicos, como Xenofonte, Platão, Aristoteles, Socrates, entre outros, cuja abordagem sobre a criança era unânime em relacioná-la a ideia de segredo, ou seja, as crianças não tinham acesso há muitas informações e conhecimentos, que eram de exclusividade dos adultos.
Fora os segredos, o autor nos relata que as crianças aprendiam mediante à leitura, pois na época havia dois tipos de alfabetização: A socializada, onde uma parte do povo tinha acesso a leitura; e a Alfabetização corporativa, que estava restrita a uma minoria, o que resultou na formação de uma classe privilegiada – os Escribas. Além dessa cisão, outro elemento que contribuiu para restringir a leitura, foi que naquele momento ainda não havia manufatura de papel e, portanto, inexistia livro.
Postman discute a educação da criança no mundo antigo, fazendo uma comparação entre as cidades gregas de Atenas e de Esparta. Considera o autor que em Atenas a criança era educada e melhor preparada nos centros de ensino para ingressar no mundo dos adultos; enquanto em Esparta, a educação das crianças era voltada para a guerra, aprendendo apenas o necessário. O modelo de educação grego, com referência a Atenas, se difundiu para o mundo romano, cuja civilização avançou no seguinte aspecto: “Estabeleceu uma conexão - aceita pelo mundo moderno, entre a criança em crescimento e a noção  de vergonha, tornando-se um crucial passo na evolução do conceito de criança” (POSTMAN, 1999, p. 22-23). 
Depois, Postman destaca as invasões barbaras no Império romano que, além de findar o período antigo,  suplantou a cultura clássica, afetando diretamente a leitura, a escrita, a aprendizagem e a educação. Enfim, com o declínio da educação, na idade Média (idade das trevas) a criança passa absorver os conhecimentos não mais pela leitura, mas de modo oral, face a face. Esse novo ambiente informacional permitiu que as crianças passassem conhecer o mundo dos adultos, isto é, a perda da capacidade de escrever e de ler no mundo medieval aproximou a criança do adulto na medida em que a fronteira do desconhecido deixou de existir.
Ao colocar que, na idade média, o processo de aprendizagem se realizava mediante as interações sociais, Postman acredita que a Europa teria voltado a condição “natural”, concepção essa sustentada por Rousseau que - em sua obra o bom selvagem, defendia a ideia de que: “Os homens devem se abster dos livros e das leituras. [...] ‘Ler é o flagelo da infância, porque os livros ensinam a falar de coisas das quais nada sabemos’. Também porque a leitura cria a idade adulta” (POSTMAN, 1999, p. 27).
Para o autor os efeitos das invasões barbaros não apenas foi sentido na cultura clássica, mas, sobretudo, fez desaparecer a vergonha e a própria criança. Para se ter uma noção desse impacto no campo da educação, Postman é enfático, ao afirmar que os indivíduos - mesmos letrados, tinham grande dificuldade de dominar um texto, cujo leitor tipico medieval:

Procedia como um aluno iniciante no aletramento, pronunciando palavra por palavra, murmurando para si mesmo e em voz alta, sendo o dedo apontado em cada palavra, como estivesse esperando que algumas delas fizessem algum sentido (POSTMAN, 1999, p. 26).

A desvalorização da alfabetização, da leitura e da criança pode ser percebido num pequeno trecho da obra de Postman: “No mundo medieval não havia nenhuma concepção de desenvolvimento do termo infância  [...] Ao contrário da civilização antiga, o mundo medieval não tinha ideia alguma de educação” (POSTMAN, 1999, p. 29). Prova do descaso para com a criança é que a palavra Child expressava laço de parentesco, e não criança como significa nos dias atuais. Ao contrário da civilização antiga, na idade média a criança no sentido nato da palavra praticamente inexistia, diferenciando-se do adulto apenas em duas coisas: Na capacidade de fazer sexo e de participar das guerras. Fora essas duas situações, a criança reproduzia os mesmos atos de um adulto, o que explica o modelo de criança retratado nas pinturas da época: “Crianças como adultos em miniaturas” (POSTMAN, 1999, p. 32). 
No capitulo 2, intitulado de “A prensa Tipográfica e o novo adulto”, o autor inicia essa parte colocando que é necessário redefinir a concepção da vida adulta. Busca mostrar como a advento da tipografia, no século XVI, criou um novo mundo simbólico  [o da infância], o que exigiu mudanças no conceito do ser adulto, extinguindo a criança desse mundo. Coloca ainda o autor que “a tipografia foi o primeiro invento que se traduziu em disputa antagônicas  haja em vista que a possibilidade de ter as próprias palavras impressas, como sua difusão, gerou a individualidade, gerando a corrida na busca por conhecimento” (POSTMAN, 1999, p. 35).
O autor considera o século XVI como um divisor de águas na historia da criança, cuja retomada da alfabetização socializada e a capacidade de ler passaram a determinar a idade adulta e, por outro lado, a concepção de infância passou a ser definida pela incapacidade da leitura, sendo que esse ideário valorizou a familia e a escola. A intima relação entre o surgimento da prensa tipográfica e o desenvolvimento da concepção de infância é sustentada por Innis:

As mudanças na tecnologia da informação têm três tipos de efeitos – Alteram as estruturas de interesses (pensamento); alteram o caráter dos simbolos (objetos de que pensamos); e alteram a natureza da comunidade, isto é, como os pensamentos se desenvolvem (POSTMAN, 1999, p. 35).

Na medida em que os materiais impressos foram se aperfeiçoando, foi se criando condições para se organizar os conteúdos (livro) que, por sua vez, promoveu nova maneira de organizar o pensamento, cuja mudança “possibilitou a tipografia florescer a infância (individualismo), em detrimento das interações sociais” (POSTMAN, 1999, p. 43). Mais que isso: Postman considera que a difusão do conhecimento fez surgir o homem letrado, que pôs fim o ser criança, cuja fase medieval nem os jovens e nem os velhos sabiam ler, visto que ambos estavam em um mesmo contexto. Desde então, um individuo para entrar no mundo dos adultos, tinha que saber ler, o que exigia para isso de educação, isto é, “a civilização européia reinventou as escolas e, ao fazê-las, transformou a infância em uma necessidade” (POSTMAN, 1999, p. 50).
No Capitulo 3, intitulado de “Os incunábulos da infância”, o autor descreve o período do berço da prensa tipográfica, cujo produto foi a valorização do ideário do surgimento da infância. Nesse contexto, o termo infância se firmou e passou ser um objeto de: “ Respeito, como sendo uma criatura especial, de outra natureza e com necessidades distintas dos adultos e, por isso, deveria ficar protegido. Essa nova concepção fez ampliar a alfabetização socializada e o uso de livros como instrumento de educação, embora, a partir de meados do século XVII, o segmento da igreja Católica se demonstrasse contrária a essa politica, cuja divergência o autor retrata numa seguinte passagem de sua obra:

A igreja católica passou a considerar a proliferação do uso da leitura como um elemento desintegrador, coimbindo a alfabetização socializada, como também a leitura da Biblia vernácula. Essa oposição católica fez surgir as heresias. Por outro lado, os protestantes se apropriaram da literatura para disseminar o cristianismo (POSTMAN, 1999, p. 52).

Uma das consequencias da cisão entre católicos e protestantes em relação a prensa tipográfica, o autor destaca que foi uma inversão geográfica intelectual: Se por um lado, a população prostentante passou a ter acesso ao conhecimento, em função da leitura; por outro, os os católicos permaneceram sob o manto da ignorância. Essa questão religiosa explica o porque “o catolicismo se firmou como uma religião da imagem (culto aos santos) e o protestantismo se desenvolveu como religião do livro - uso da bíblia  (POSTMAN, 1999, p. 53).
No Capitulo 4, intitulado de “A jornada da infância”, Postman inicia enfatizando o processo de depreciação e de perda da ideia de infância, reportando-se especificamente para a Inglaterra no periodo da expansão industrial nas grandes cidades. Relata o autor que as crianças tornaram-se objeto de mão de obra para o setor fabril, cuja descrição de uma menina de oito anos sobre um dia de labuta, em meados do século XIX, é a seguinte: “Entro às quatro e saio às cinco e meia. Nunca durmo. Às vezes canto quanto tenho luz, mas no escuro não ouso a cantar” (POSTMAN, 1999, p. 67).
Da Inglaterra, o autor se reporta para a França, cujo “empecílio a alfabetização e a educação não se deram a partir do capitalismo industrial, mas dos jesuitas [católicos] que temiam o avanço do protestantismo na Europa” (POSTMAN, 1999, p. 69). Embora da oposição das máquinas (Inglaterra) e dos Católicos (França), o autor frisa que a “educação e, por conseguinte, a ideia de infância, vinha se fortalecendo desde o século XVIII, por ocasião do surgimento do movimento Iluminismo que, tendo John Loocke e Roseau como expoentes, sustentou o clima intelectual da época” (POSTMAN, 1999, p. 70).
Tanto é que com o seu livro “Pensamento sobre educação”, Locke exerce forte influência na disseminação da ideia de infância e, acima de tudo, promoveu a teoria da infância, ao expôr a seguinte ideia: “Ao nascer a mente é uma folha em branca, uma tábula rasa. Por esse entendimento, a responsabilidade do que será inscrito na mente recai sobre os mestres, professores, pais, governos, enfim e delegado a terceiros” (POSTMAN, 1999, p. 71). 
Rousseau, por seu turno, contribuiu com o ideário de infância, ao acreditar que: “A criança é importante em si mesma, e não meramente como um meio para um determinado fim; pensamento esse que se diferenciava da posição de Locke, que via na criança um potencial a ser desenvolvido” (POSTMAN, 1999, p. 72).
Quando a infância ingressou no século XIX e, ao mesmo tempo, quando penetrou no novo mundo, o autor mostra que havia claramente duas linhas de pensamentos sobre a infância: A corrente lockiana ou protestante e a corrente rousseuaniana ou romantica, sendo que: 

Na visão protestante, a criança era uma pessoa amorfa que, por meio da educação e do auto controle da vergonha, podia se tornar um individuo adulto civilizado. Na visão romântico, por outro lado, não a criança amorfa, mas o adulto deformado que constitui o problema, ou seja, a  criança possui, como direito inato, aptidões para a sinceridade, compreensão, curiosidade e espontaneidade  aos quais são amortecidos pela educação e pelo auto controle da vergonha (POSTMAN, 1999, p. 74).

A partir dessas duas concepções predominantes, Postman aponta que outros teóricos passaram a contestar ou legitimar tais linhas de pensamento. Por exemplo, enquanto Freud refutava as ideias de Lock e Rosseau; Dewey entendia ser os pais que deveriam indagar às crianças: Do que elas precisavam? Embora das contestações, o autor acredita que Freud e Dewey cristalisaram o paradigma da infância, que vinha se formando desde o surgimento da prensa tipográfica: “A criança como aluno, cujo ego e individualidade deveriam ser preservados por cuidados especiais, onde o auto controle, a satisfação adiada e o pensamento lógico deveriam ser ampliados, sob o controle dos adultos (POSTMAN, 1999, p. 77).
Segunda parte do livro

Nessa parte da obra o autor incursiona no Capitulo 5 (o principio do fim), cujo limite temporal são os anos de 1850 a 1950, abordando o preamar da infância. Para o autor, essa fase de 100 anos representou a tentativa de por todas as crianças fora das fábricas e dentro das escolas, das próprias roupas, do próprio imobiliário, da própria literatura, do próprio jogo. Enfim, trata-se de uma fase que buscou colocar a criança dentro do seu próprio mundo, afastando-se das contendas da vida adulta, cujo recorte espacial passa ser os Estados Unidos.
Todavia, antes de apontar os indícios do desaparecimento da infância, o autor faz uma importante observação: “Como veio sendo trabalhada como direito nato da pessoa no contexto da classe social, no inicio do século XX a infância foi definida como uma categoria biológica, em detrimento da cultura, como deveria ser” (POSTMAN, 1999, p. 81). O contexto social daquele periodo (1850/1950) indicava que os simbolos que tinham sustentado a infância começavam a se desmoronar, reflexo da publicação da primeira mensagem elétrica, sob o invento de Samuel Morse no final do século XIX.
Postman percebe que o invento de Morse surtiu os seguintes efeitos: Mudou o carater da informação, passando do pessoal/regional para o impessoal e global; criou um público e um mercado com noticias fragmentadas, descontinua e irrelevante, sendo até hoje a principal materia prima da indústria de noticia, ou seja, transformou a informação - antes um bem pessoal, em mercadoria. Com tais mudanças, o autor explica que: “[...] Ninguém foi mais responsável pelas noticias: O telegráfo dirigia-se ao mundo, e não mais às pessoas” (POSTMAN, 1999, p. 85).
Na avaliação do autor, o novo contexto nos meios de comunicação, delimitado pelo telégrafo  impactou diretamente na infância, visto que – desde a tipografia, a subsistência da infância dependia estritamente dos principios da informação controlada e da aprendizagem sequencial. Porém, o autor é contundente, ao considerar que: “A instituição do telégrafo colocou tudo isso por terra, pois - ao invadir os lares e as escolas, colocou o controle da informação em cheque, cuja disseminação da informação possibilitou maior acesso das crianças” (POSTMAN, 1999, p. 86).
Além do telégrafo  outros elementos (como a revolução gráfica, fotografia, cinema; etc.) foram determinantes para desburocratizar o conhecimento e as informações, que até então, estavam sob o domínio dos adultos. Mais que a velocidade da transmissão da informação, o autor aponta que: “O surgimento da imagem mudou a própria forma da informação, passando de discursiva para não discursiva; de proposicional para a proposicional; de racionalista a emotiva” (POSTMAN, 1999, p. 87). Trata-se do surgimento da televisão, cuja veiculação da imagem sacramentou a proliferação das informações no meio público. Para se ter uma noção do seu poder, o autor afirma que “a imagem de um candidato tornou-se mais patente do que a sua plataforma de governo” (POSTMAN, 1999, p. 87). 
Essa mudança de percepção trazida pelo meio televisivo, conjugada com a competição da velocidade dos meios de comunicação, com mais intensidade em 1950, é que criaram um ambiente para o declínio da infância, visto que:

A competição da velocidade da informação e da imagem produzida em massa tornou a infância obsoleta, ao mesmo tempo que foi concebida como um acessório permanente, periodo esse em que a televisão se instalara firmemente nos lares americanos (POSTMAN, 1999, p. 89).

No contexto da evolução dos meios de comunicação, o autor faz um retrospecto, afirmando que assim como os escribas tiveram seu monopólio de conhecimento destroçado pela prensa tipográfica; também o monopólio do livro foi destronado pelo o advento da mensagem elétrica e a mídia eletrônica, o que permitiu maior acesso de informação por parte da população infantil. E mais: “Na televisão é a imagem que domina a consciência do telespectador e conforma os significados, isto é, as pessoas vêem televisão, e não leêm, sendo o que vêem são imagens em constante dinâmica  (POSTMAN, 1999, p. 92). Afinal, assistir televisão requer apenas conhecimentos instantâneos de padrões, e não de decodificação analítica  assim como também exige percepção, e não concepção, visto que assim como não exige habilidade, também não agrega nenhum atributo no individuo, como ocorre com a leitura de um livro. 
No Capitulo 6, intitulado de “O meio que escancara tudo”, o autor começa descrevendo um individuo que, num programa na TV, tenta vender um pouco de tudo e com pouca delimitação de fronteira entre os produtos. Em seguda, o autor retoma o fator vergonha, que separava a criança do adulto até o fim da idade média, apontando que seu fundamento residia na concepção de que:

A civilização não podia viver sem o controle dos seus impulsos, como o da agressão e o da satisfação imediata, pois os indivíduos estão expostos aos constantes perigos da barbárie (violência, promiscuidade e egoismo). A vergonha é, assim, o mecanismo para conter a barbárie (POSTMAN, 1999, p. 99).

O autor discorda que a  vergonha possa funcionar como mecanismo de controle social ou de diferenciação de papeis numa sociedade que não sabe guardar segredos, pois acredita que a vergonha (como por exemplo na violência) acaba quando a fonte que a esconde acaba. Porém, com a predominância da televisão e com o fim da vergonha, o autor faz a seguinte critica: “Parece que estamos retomando às condições do século XIV, quando nenhuma palavra era considerada imprópria para os ouvidos de um jovem” (POSTMAN, 1999, p. 103).
A televisão, ao tornar pública todos os tipos de informações, tanto a autoridade do adulto, quanto a curiosidade da criança, perderam terreno, haja em vista que a vergonha estava enraizada na ideia de segredo. Esse é o argumento central descrito por Postman para o desaparecimento da infância que, de outra maneira, pode ser concebida por Mead como Crise da fé, cujo pensamento é de que “não há pessoa mais velha que saiba mais que um jovem e sobre o que este está vivênciando” (POSTMAN, 1999, p. 103).
Postman acredita que, na atualidade, o grande problema é a exploração da sua matéria prima (violência, estrupo, assassinatos, drogas, etc.), que é difundida mundialmente, colocando tais realidade em contato com o mundo jovem que, muitas das vezes, induz esse a reproduzir cenas de barbarie. Neste ponto, Postman é catedrático, ao afirmar que isso nada mais é do que “a televisão revelando os segredos dos adultos” (POSTMAN, 1999, p. 109). Nesse momento oportuno, o autor apresenta dois indicativos de que a televisão é excepert em revelar segredos: “A vulnerabilidade dos lideres políticos  quando este assunto era objeto de revistas; e as fraquezas do corpo humano, pois por muito tempo as graves doenças ficaram ocultas às crianças” (POSTMAN, 1999, p. 110). E completa: “Ao ter acesso ao fruto – antes proibido pelo mundo adulto, os indivíduos foram expulsos do jardim da infância” (POSTMAN, 1999, p. 111).
No Capitulo 7, intitulado de “O adulto criança”, é a parte do trabalho em que o autor defende a sua tese de que a infância está desaparecendo, começando pela descrição de um comercial de televisão, onde mãe e filha pouco apresentam distinção de idade, isto é, a televisão tenta passar a imagem de que as diferenças entre adultos e crianças estão desaparecendo. Argumenta o autor que, assim como a midia eletrica deslocou a alfabetização para a periferia da cultura, redefinindo a idade adulta; a televisão promoveu mudanças, visto que ela gerou três etapas: “Os recém nascidos, o adulto-criança e os senis” (POSTMAN, 1999, p. 113).
Um dos pontos altos desse capitulo, é quando Postman - ao fazer um parâmetro do adulto-criança da idade média, cuja concepção normal era a ausência de alfabetização e de disciplina/aprendizagem para ser tornar um adulto; faz a seguinte indagação: Porque o adulto-criança está surgindo como normal na cultura da sociedade contemporânea? A resposta é a seguinte: “Como na arena simbólica, o crescimento humano muda na forma e no conteúdo – em especial no sentido de não exigir diferenciação de sensibilidade do adulto e da criança, as duas etapas de vida (adulto/criança) se fundem numa só” (POSTMAN, 1999, p. 113). Essa é a construção teórica de Neil Postman como produto da obra o “desaparecimento da infância”.
Além de apontar a televisão ser o fator crucial do desaparecimento da infância, Postman questiona e rebate a ideia de que esse meio de comunicação tem como papel manter o público informado. O argumenta que, dado o poder dinâmico das imagens, a televisão, gera dois efeitos: Torna dificil pensar sobre um acontecimento (sua História, significado, causas, etc.) e torna dificil sentir algo sobre um dado evento, ou seja, quais as  reações humanas aos homicidios estrupo, incendios, corrupção, entre outros. E mais: As noticias que esse canal de comunicação difunde representa: “Um entretenimento, um mundo de artificios e de fantasias montado para produzir uma determinada série de efeitos a fim de deixar a platéia rindo, chorando e  estupefada. [...] O efeito é trivializar a ideia de homem político para destruir a compreensão do adulto e da criança” (POSTMAN, 1999, p. 121). 
Outra concepção desenvolvida por Postman a respeito da televisão é que ela aproxima a idade adulta do mundo da criança, na medida em que torna tudo concreto, em detrimento da abstração. Também a  televisão está estritamente ligada a dominância das imagens e das figuras, recursos esses natos ao mundo infantil. Por outro lado, embora pareça contraditório, Postman diz não ser contra a televisão, visto que sua obra apenas: “Descreve as limitações desse meio de comunicação e os efeitos de tais limitações, pois depende muito de como entendemos a natureza desse poderoso meio transformador de cultura” (POSTMAN, 1999, p. 132). 
No Capitulo 8, intitulado de “A criança em extinção”, o autor nos mostra alguns indicativos do desaparecimento da infância, cujos elementos são de várias naturezas, como bem lista o autor:
- Vestimento, cuja consequência no comportamento de uso de traje alterou a industria de roupas infantis, pois garotos de 12 anos passaram a usar ternos em festa de aniversários,
- Sexo, cujo tempo de puberdade feminina vem diminuindo. Se nos anos de 1900, a idade média da menstruação era de 14 anos; em 1979, esse indicativo passou para 12 anos,
- Preferência, cuja brincadeira (de criança) com recursos infantis diminuiu. Essa situação foi sentida na redução da arrecadação da Walt Disney,
- Jogo, que fez aumentar o ingresso dos jovens nas atividades profissionais do adultos, em detrimento dos jogos e das brincadeiras infantis, e
- Entretenimento, que tem levado aos jovens a optar pelos programas de adultos, seja na TV, cinema, em videos, etc.
O autor observa que, junto com essa mudança de comportamento, muitos valores, inerentes a categoria infantil, se perderam, principalmente àqueles referentes as formas de tratamento com os mais velhos, como obrigado. O Fim da infância é reforçada por outras tendencias, como: Aumento da criminalidade infantil, elevado nivel de atividade sexual dos jovens e o aumento dos partos em adolescentes, aumentando as doenças venéreas; aumento do alcoolismo dentre a população jovial, etc. Corrobora também o fim da infância o fato de que muitas instituições passaram a promover uma política no sentido de resgatar “o Direito de ser (da) criança”, a partir de dois argumentos: a) A criança é desejável, mesmo que frágil, necessitando de proteção dos maus tratos; b) O termo criança em si representa uma ideia opressiva e que tudo deve ser feito para liberar os jovens de tais restrições. 
No Capitulo 9, intitulado de “Seis perguntas”, Postman conclui sua obra chamando atenção do leitor com meia duzia de indagações, cujas reflexões se deu durante o processo de confecção desse livro. Coloca ainda o autor que, além de servir para o leitor refletir sobre a temática, tais perguntas são uma forma de compensar a ausência de respostas para o problema do desaparecimento da infância, dentre as quais se destaca: A infância foi descoberta ou inventada? O declinio da criança significa um declinio geral da cultura americana? Até que ponto a maioria moral e outros grupos fundamentalistas podem contribuir para a preservação da infância? Haverá tecnologias de comunicação que tenham potencial para sustentar a necessidade de infância? Haverá instituições sociais suficientes fortes e suficientemente empenhadas em resistir o declinio da infância? Será que o individuo se tornou impotente para resistir o que está acontecendo?
Considerando que é a televisão o meio de comunicação que mais contribui para degradar a infância, Postman apresenta a seguinte prescrição  A saída é reduzir – e não proibir, o uso desse recurso informativo, como também puxar uma discussão critica a respeito do conteúdo do que está sendo visto, sob pena de não reproduzir e banalizar atos de barbarie televisivos pela população jovem. 
E, para encerrar a construção da sua obra, o autor nos apresenta a sintese do seu livro:

Assim como a alfabetização fonética alterou as predisposições da mente em Atenas no século V a. C. ; assim como o desaparecimento da alfabetização social ajudou a criar a mente medieval; assim como a tipografia aumentou a complexidade do pensamento, mudando o conteúdo da mente, no século XVI; a televisão tornou para nós desnecessário distinguir a criança do adulto (POSTMAN, 1999, p. 132). 

Mas que demonstrar a evolução dos meios de comunicação, que coloca em risco a permanência da infância na contemporânea sociedade, o autor manifesta ser favorável à infância, Postman (1999, p. 167) enfatiza e conclui que: “As pessoas não devem esquecer que ‘as crianças precisam de infância’ e, quem tomar isso como aprendizado, está prestando um nobre serviço a humanidade” (Grifo do resenhista).

POSIÇÕES DEFENDIDAS PELO AUTOR

Postman apresenta uma consistente argumentação histórica para sustentar a sua tese de que a infância está desaparecendo, tornando válida a sua posição de que esse fenômeno é produto do desenvolvimento dos meios de comunicação, em particular a televisão, que torna pública toda e qualquer tipo de informação, deixando de lado os segredos e a vergonha.
Além de associar o fim da infância ao surgimento da televisão, o autor desenvolve a ideia de que os meios  de comunicação afetam diretamente o processo de socialização, em especial a família e a escola, indicando que os condicionantes do desaparecimento da infância residem no ambiente informacional.
Outra ideia desenvolvida pelo autor é que a mídia eletrônica é de fácil compreensão, enquanto a mídia impressa exige concepção critica. Por outro lado, não fica claro no decorrer do livro a posição assumida por Postman frente as duas matriz teóricas (Lockeana/Rosseuana)  que deram embasamento para o desenvolvimento do termo infância, porém o autor critica algumas correntes de pensamento, como a linha psicológica da educação, incluindo o destacado Jean Piagêt, visto que - em seus trabalhos, não contestam e nem abrem uma discussão de que as crianças sejam diferentes dos adultos ou que devem, paulatinamente, alcançar a idade adulta. 

CONTRIBUIÇÃO DA OBRA 

A grande contribuição de Postman foi a construção da seguinte teoria: “Como na arena simbólica, o crescimento humano muda na forma e no conteúdo – em especial no sentido de não exigir diferenciação de sensibilidade tanto do adulto como da criança, essas duas etapas de vida se fundem numa só”. Neste ponto, o autor dá subsídios que explicam ser o meios de comunicação responsáveis pelas mudanças de comportamento das crianças. Além desse arcabouço teórico, Postman responde as duas perguntas, que norteou a construção do seu livro: 
a) De onde vem a infância? Foi uma necessidade inventada pelos meios de comunicação, tendo como marco tecnológico a prensa tipográfica; 
b) Porque estaria desaparecendo a infância? A hiper concorrência de informação e de imagens dos meios de comunicação por maior fatia de mercado audiovisual, ao invadirem os lares/escolas, destroem valores e corroem a estrutura social, cujo impacto é na infância.
A grande contribuição social da obra de Postman é que ele chama atenção dos pais não apenas para a redução do tempo de permanência da criança frente à televisão, como também é a favor de uma discussão a respeito do conteúdo veiculado pelo meio televisivo, o que certamente diminui os impactos  das cenas de barbarie no comportamento das crianças. Agindo desse modo, os pais podem resgatar a sua autoridade não no sentido de saber mais que as crianças, mas lhes orientar quanto as debeis realidades disseminadas nos meios de comunicação de massa. 

ANALISE CRÍTICA SOBRE OBRA 

Na trajetória do desenvolvimento dos meios de comunicação, acredita-se que a indústria capitalista e a igreja católica, ao se demonstrarem contrárias à alfabetização socializada, contribuíram para retardar o desenvolvimento intelectual no final da idade média que, o que se refletiu no desenvolvimento da geração presente, resultando numa classe pouca letrada. 
O estudo histórico de Postman explica muitos fenômenos que ocorrem na atualidade, com relevância no campo da educação. O conhecimento deixou de ser algo exclusivo dos livros e/ou dos professores, visto que o alunado se antecipa às informações, seja pela televisão, celular, internet, etc. Mais que isso: O respeito ao educador, como também aos mais velhos, deixou de ser uma referência de disciplina na escola.
Outra aprendizagem que se teve do estudo é que, assim como o segredo e a vergonha representaram a linha de fronteira entre a fase da criança e adulta; nos dias atuais também requer um parâmetro que venha excluir a criança de muitas informações que venham degradar essa fase de vida, linha essa que teve pouco poder de explicação conceitual por parte do autor, indicando um vasto campo para se produzir estudo. 
Entendemos que a concepção de Postman tem maior notoriedade nesse inicio do século XXI, quando observamos jovens, ainda de idade pré matura, ocupados – ao mesmo tempo, em várias atividades, como estudo, trabalho/estágio, curso de língua estrangeira e/ou atividades complementares. Enfim, são crianças que assumem responsabilidades, passando ter imagem de adulto, cuja autonomia resulta na perda da função dos pais como “conselheiros” dos filhos.
Como a infância foi uma necessidade inventada pelos meios de comunicação, é plausivel afirmar que a escola e a família, como instituições educadoras, são termos burgueses, na medida em que surgiram para atender interesses mercadológicos, percepção essa que se reproduz no EUA na medida em que preferem a indústria televisiva, que fatura alguns zilhões de U$$, em detrimento da afirmação da criança no seio social, justificando aversão americana à infância.
Como aprendizagem dessa resenha, apresenta-se a seguinte sintese: O desenvolvimento dos meios de comunicação, iniciado pela prensa tipográfica até o surgimento da televisão, assim como inventou a criança, também foi responsável pela corrosão e fim da infância. O termo infância, portanto, foi inventado e se desenvolveu a sombra do surgimento e da evolução dos meios de comunicação, em particular a televisão, entre outras mídias eletrônicas afins.
Como titular dessa resenha, acredita-se que os profissionais da educação não podem ficar reféns dos meios de comunicação, como a televisão, e como também a internet, mas, sim devem tomar essas fontes de informação como recurso em prol do aprendizado e do crescimento dos alunos, isto é, essas mídias devem sair do campo da xenofobia e se transformar em recursos pedagógicos. As cenas violentas devem ser trabalhadas em sala de aula, no sentido de educar o alunado quanto a sua nocividade, sob pena do papel do educador de difundir conhecimento e ciência desaparecer no atraente contexto das imagens televisivas e computacionais.

¹ Graduado em Ciências econômicas pela Universidade Federal do Pará. Atou como professor [leigo] na rede pública de ensino no Município de Marituba, Estado do Pará, por quatro anos [2004/2008]. 

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